sábado, 12 de abril de 2008

de onde vem o nosso impulso de sondar o espaço?

Título tirado de uma música do Jorge Ben porque eu não tenho a competência de escrever isso sozinha. (Errare Humanun Est - Jorge Ben)
As vezes é bem estranho não se sentir você. Eu não me sinto eu muitas vezes. Primeiro vem aquela pira que eu sempre tenho de me dar conta de que sou uma pessoa. NÃO TEM COISA MAIS ESTRANHA! Estou sentada, conversando, dando minha opinião baseando-me na minha experiência de vida, e aí eu paro e penso: "nossa, eu que falei! eu vivi tudo isso. e eu existo, nossa, e eu sou uma pessoa, nossa. meu nome é carolina, e as pessoas podem me ver, podem falar comigo". Parece a coisa mais idiota do mundo, mas acontece e não dá pra explicar a sensação. Eu já conheci mais pessoas que sentem a mesma coisa. Por vários dias eu não vivo em mim, como se eu fosse expectadora da minha vida, como se eu assistisse a um filme. É como se eu fosse outra pessoa, ou fosse apenas algo capaz de assistir. E eu assisto à minha vida como se ela fosse vivida por uma pessoa que eu não conheço. Aí tudo parece inalcançável. Tudo parece impossível. Mas ao mesmo tempo, sou eu expectadora que sente, que quer, que espera. É bizarro isso. Eu não sinto as coisas acontecerem, como se eu não tivesse vivendo todas essas coisas, como se fossem inatingíveis ao mesmo tempo em que sou eu que almejo ter o controle, segurar o acontecimento. Sou eu que quero, que sofro, que sorrio (eu expectadora). E a eu-personagem põe as mãos em tudo que acontece sem sentir, como se fosse desprovida de sentimentos. Ou ela sente. Acho até que ele sente sim. Mas eu não sei como ela está sentindo. Eu fico me esforçando pra saber como é aquela sensação e fico sempre querendo, querendo, querendo muito alcançar. Dá uma agonia isso, porque é mesmo como assistir a um filme da minha vida. Eu quero sentir tudo de perto mas não posso porque estou só assistindo. E aí a sensação acaba sendo muito mais intensa, porque eu fico o tempo inteiro buscando sentir, indignada por não segurar a vida e acabo por sentir demais, mais do que deveria. Eu lido super bem com isso, acostumei, mas não deixa de ser estranho, vai dizer. A primeira vez que eu pus isso em palavras pensei em me internar porque parecia bizarro demais pra uma pessoa sã. Até que descobri que não sou a única que sente isso e sosseguei. E que mania de querer pôr tudo em palavras. Que mania de querer entender tudo, que impulso de especular a mente em busca do significado de cada pontinha de cada sentimento.

Depois vem aquela coisa de falar um monte de coisa que por dentro eu sei que não condiz com os meus princípios. Isso por muitos dias, por muitas semanas. Até perceber que eu estava sendo qualquer pessoa menos eu. Vem a pegunta "o que você está fazendo? cadê você? por que você está sumindo?" Eu me sinto desaparecendo num buraco de simulações. Eu me calo, ninguém sabe nada sobre mim, nada que realmente importa, nada que eu pretendo que fique, porque eu não me esforço pra contar. É difícil contar e deixar as pessoas me conhecerem. A história é longa demais. Não dá pra começar a contar do nada. Se ninguém tocar no assunto, se ninguém insistir, eu não conto. Quando o assunto chega perto eu fujo. Que tosca! Eu gostaria de ser mega-corajosa e mega-forte ao ponto de falar assim. De aproveitar a deixa. Mas corre o risco de tocar no assunto e ficar todo mundo com cara de entrerro pensando "caraca, o que eu falo pra ela?". Acaba que o silêncio me irrita e eu mudo mesmo de assunto. Eu não quero que falem nada, oras. Um abraço resolve. Nossa, abraços curam muitas coisas. Se fosse por mim, eu abraçaria todo mundo o tempo inteiro. Tento tanta voltade de abraçar algumas pessoas aleatórias de vez em quando e não abraço porque não tenho intimidade. Chato, né? E ainda há aqueles que não gostam de abraços. Como pode?

Voltando à sensação de não me sentir eu... me ocupo mais do que o necessário pensando nisso. Eu acabo deixando transparecer só as coisas que eu mais quero mudar em mim. Todo mundo me conhece tão superficialmente, conhecem justamente o que eu menos gosto. Eu acho que sou uma pessoa tão melhor do que pareço. E quase ninguém me conhece assim, porque eu não deixo mesmo. Se eu me deixo conhecer eu me apego. E eu crio uma barreira de proteção, analisando e selecionando quem eu acho que pode fazer parte da minha vida pra sempre, pra não me apegar em vão. É divertido de vez em quando falar um monte de besteira com as quais eu discordo, mas chega uma hora que cansa e eu quero falar o que eu acho de verdade. Pff. Vai saber, né? Vai que eu tomo coragem um dia de abrir a boca? Acho que estou até evoluindo nesse sentido. Depois de quase dois anos em silêncio. Eu venho soltando aos poucos a história. Não tem jeito. Todo mundo precisa falar. Puxar alguém, sentar, e destrambelhar a falar até não ter mais voz, ganhar um abraço em silêncio e ir ver vitrine, ou tomar café, ou sorvete... Só isso já faz TANTA diferença. Eu não acho que as pessoas não me entendem, mesmo que pareça que eu acho, já que a internet tem esse poder ridículo de fazer tudo parecer dramático. Eu tenho plena consciência de que me entenderiam se eu falasse e eu não falo porque me acomodo e não tento falar.

Um dia desses, semana passada, desabei depois de me dar conta que eu não vinha sendo eu. Quando parei pra tentar me reconhecer, parei pra olhar minha vida, nada não coube mais em mim e eu explodi. O melhor remédio foi, depois de uma noite de sono, acordar com o céu azul ouvindo chico buarque. Melhooooor remédio não foi. Mas o melhor remédio possível foi esse. Não reclamo muito de não ser eu sempre porque cansa ser a mesma pessoa o tempo todo. Quem não cansa? Eu canso. E é bem divertido as vezes fugir disso. Só que, de repente, eu levo um susto, porque passo muito tempo me divertindo assim e depois sinto medo de me perder no meio do caminho.

A verdade é que dá medo de crescer e não conseguir ser competente em nada. Tenho o maior medo de não conseguir se boa no que eu mais gosto e ter que me conformar com outra vida diferente da que eu planejei. E sempre é diferente. Independente de profissão, dá medo de crescer e esquecer as coisas boas que eu penso. Esquecer eu não vou, mas sabe, tenho receio de me deixar amargar demais e parar de sonhar. Dá medo de mudar pra pior. Dá medo de continuar me trancando e perder muitas oportunidades de ensinar as coisas lindas que eu aprendi.

Ando sentindo a maior falta de olhar, só olhar e já entender tudo. Ando sentindo falta de me deixar olhar e me sentir decifrada só por isso. Ando sentindo muita falta daquela amizade, daquele amor incondicional. De poder ligar, de poder ouvir a voz, de poder abraçar, de poder contar tudo, de poder falar nada e ganhar o dia por todo o carinho desses minutos de companhia silenciosa. Li num livro de um autor chamado Bernardo Élis que nós sabemos que temos um amigo verdadeiro quando ficamos em silêncio com ele e achamos isso suficiente, gostoso. Se o silêncio incomoda, não existe amizade ali. Essa é uma verdade muito grande. Tenho saudade da gargalhada inocente, de esquecer de tudo a minha volta... de estar com quem sabia tudo de mim, que me ouvia a qualquer momento, da companhia incansável, das melhores companhias. Cada um tem um tempo aqui, mas o Bruno e a Lygia tiveram um tempo curto demais. É uma saudade doída, mas também é bonita. Cheia de amor, um amor que ninguém tira de mim. Essa é uma das minhas alegrias, poder carregar minhas lembranças por toda a vida.

Um dia desses fiquei bem feliz. Ri até doer as bochechas e ter que segurá-las. Há mais de um ano eu não fazia isso. Queria que eles pudessem ver, ficariam contentes.

Ai, cansei desse computador. Desdo meio-dia estou aqui. Recorde. Há tempos desacostumei com isso, e agora me dá uma inquietação quanto ultrapasso 1h aqui na frente. Dá vontade de me mexer, gritar, socar o computador até quebrar, nossa, irrita! Hoje foi mesmo o dia de relembrar os velhos tempos. Como eu conseguia ficar on-line tanto tempo? Começa a dar dor nas costas, no olho, na testa, UI! (Um minuto, vou buscar um cd que estou muito afim de ouvir pra me acalmar). Ahhhh, ufa! Bem melhor agora. Quase não ouvi música hoje, já tava dando tremedeira. Voltando ao computador, passei a tarde inteira aqui e nem passei protetor solar. Descobri que a luz do monitor é mais prejudicial que a luz do sol. Devo ter envelhecido um bocado, droga!
Hoje as meninas estão afogando as mágoas em garrafas de Campo Largo e eu não pude ir. Queria ir lá dar umas gargalhadas e falar besteira. Hoje é um dia que eu não queria ter tido tanto tempo pra pensar e ser eu. Que bom que o final de semana está acabando (nem acredito que falei isso)!

2 comentários:

Lucas. disse...

Li. E gostei. Acho que se revelar pra todo mundo não faz o menor sentido. Se revelar pra quem importa é o que realmente conta.

Anônimo disse...

comentario sobre o comentario...


uau... =O
e olha q eu sou lerdo...

(comentarios sobre o blog no post mais recente)