sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Levou o dia em silêncio quase absoluto. Era dia de silêncio. Nandoreis na cabeça, se passaram horas ferozes como minutos brandos: momentos em preito a tudo que escorria como água corrente por entre os dedos de suas mãos, ao que fugia com contumácia não obstante suas tentativas arduamente preensoras. Seu corpo pedia ao tempo que voltasse, que se impusesse de novo o mesmo ritmo, que se fixasse o mesmo calor, o mesmo rubor de faces ...o sal viria doce para os novos lábios. Tudo dentro de si ansiava pelo toque eletrizante que voltava à sua pele já indo embora como fio de lembrança fugaz. Sua alma pendia arqueando em busca do tempo em que esteve repousante em apoios tão seus, tão febris, tão entregues. Não quis se atentar ao cotidiano, não por muito. Quis apenas lembrar, inquieta e viciada (porque do vazio surgem compulsões e vícios), ainda que lascinante melancolia tomasse espaço ao seu lado, dessa forma. Quis apenas lembrar ...o som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário, enquanto trechos da música inundavam sua cabeça, ainda que lhe viessem ao encontro veementes saudades.

Quedou-se insensata e destrutiva nesse jogo de amargura e lágrimas, recordações e desejos, até o marasmo se encontrar reinante. Esgotou as energias pra pensar e querer, então deitou sonolenta sem poder dormir, sem saber dormir, aquecendo-se com o cobertor, encolhida, do frio da noite e do vácuo. Numa torrente dos mesmos pensamentos que lhe tiravam a paz ...aperto o 12, que é o seu andar..., ela se revirou ofegante tentando afastar de si tantos soluços abafados, tantas incertezas, tantos caminhos em branco. Aquilo por quanto tempo? Algo que não soube responder. Poderia ter ficado ali a madrugada inteira ...ficou pra hoje, ou por apenas 10 segundos. O tempo já não corria, era como se parasse, e o que valia ou contava era o anseio e o vazio dele proveniente. (esforço inútil!) Saiu da cama, porque dormir já não era possível. Sentou de frente pra sacada e, do parapeito da janela, olhou a lua minguante (ali, tão símile) tentando ainda manter inaudível sua alma, apenas se deixando recitar, baixinho: “o tom em que eu canto as minhas músicas, para a tua voz, parece exato...”

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