segunda-feira, 1 de setembro de 2008

matandotempo, morrendomúsica

Gostei do que fiz no último texto. Não que tenha saído supimpa, mas foi a primeira vez que publiquei algo totalmente independente de mim. E foi bom deixar um pouco de lado o que eu sinto pra escrever simplesmente por escrever. Foi gostoso encerrar o texto e pensar "que se foda o que eu tô sentindo por hoje". Se eu fosse competente, faria um blog assim, não-pessoal, que não fale nada sobre mim nem sobre ninguém conhecido, mas quem disse que eu vou conseguir repetir a dose? Há coisas que são únicas. Muitas vêm à tona assim, quando cansa pensar, quando cansa sentir, quando cansa tentar, dá vontade de jogar tudo pro alto e no auge da despreocupação/revolta/cansaço acontece algo inusitado. Como o efeito que eu consegui com pastel, aaaaaaahhhhhhh. desisti do pastel, xinguei, quase quebrei prancheta, peguei o pozinho, passei "shplá" no papel e =O P-A-R-A-T-U-D-O! como eu fiz isso? nunca mais vou repetir aquilo (e essa é a hora que eu começo a destruir o parágrafo com detalhes dispensáveis).

Hoje senti algo estranho com Mombojó. Uma música muito fim da vida. No sentido de soar como música ideal pra se ouvir nos últimos segundos. Morte perfeita: areia, mar, brisa, sol das 16h no Nordeste e aquela música. Parece emo, parece deprê, parece macabro. Mas é o meio que faz assim parecer. Internet gélida, calculista, determinista, que deturpa e generaliza. A sensação que tive ao identificar a música como ideal-pra-se-ouvir-morrendo foi boa, bem boa. Como se tudo acabasse ali, como se tudo sumisse ali, no meio do corredor. Como se o chão se diluísse e virasse areia. As pessoas ao redor sumiriam. Todo o peso (não é metáfora) em minhas mãos sumiriam e eu me veria vestida de algum pano suave, leve e macio. Então daria vontade de fechar os olhos e me jogar pra trás, cair na areia fofa como pacote-bêbado (lembrando chico) e ficar quieta, sentindo o sol ir embora, respirando ar limpo pela última vez, consciente de que se trata da última vez, sugando e degustando, absorvendo essa última vez. A maré estaria subindo, e a água morna tocaria meus pés. Eu sorriria já sem forças, mas feliz, tão feliz! A água sumiria e estaria na espera de, por favor, sentir a onda mais uma vez. Até me sentir mergulhando num sono profundo, até virar brisa, até sumir com a música sendo música. Foi como um calmante pra mim. Andar no corredor de sempre, cinza de sempre, pensando nas coisas de sempre pra resolver, nos trabalhos de sempre pra entregar, e de repente ver tudo isso se diluindo pra sempre em acordes. Como uma trégua pra respirar. Como uma trégua pra sorrir em silêncio e em paz, como em Recife, saudades do Recife.

Remoí muitas coisas hoje, revi muitos momentos, li depoimentos antigos, gargalhei lembrando, me vi aos 13 anos com todos os sorrisos daquela época. Deu saudades, muitas saudades. Lembrei de coisas simples, como festa do pijama, fondue de chocolate, molho tártaro, legião urbana, todas acordadas até o sol nascer, rindo rindo rindo como nunca mais, provavelmente, qualquer uma de nós rirá de novo. Saudade imensa, mas não carregada de dor. Aperta o coração, sim, como toda saudade, mas é saudade que faz sorrir, agradecer, reforçar amizades antigas. Talvez por isso essa imagem de praia esteja tão fixa na minha cabeça, bem como essa busca pela paz que encontro lá, bem como o reconhecimento rápido dessa paz no ritmo pernambucano.

O desafio mais recente vem sendo entender esse mecanismo de auto-proteção. Entender como acontece isso de congelar pensamentos, de se tornar zumbi de si mesmo, de se tornar mero receptáculo de pensamentos, pensar sem sentir, congelar-se por inteiro pra simplesmente não sentir. Virar pedra fria, o sangue pára de circular. Virar robô, algo mecânico. Congelar tudo. Não que não se sinta. Sente-se muito. Mas é criado um ser pra assistir somente, pra ser neutro, pra ser o principal, pra fingir que é mero personagem obedecendo ordens. Então se contróem muros em volta pra que tudo permaneça em silêncio, latente, desacordado. É engraçada essa autodefesa (não engraçada de "hahaha", mas de curiosa, de estranha) do ser-humano. É triste, é bizarro. Como, de uma hora pra outra brotam muros? Como de uma hora pra outra o lado cruel das pessoas pode se mostrar mesmo tendo estado inativo por tanto tempo? O foda é quando isso não é bem-vindo. Às vezes é preciso não se proteger tanto assim, não se sufocar tanto assim. Às vezes é preciso se deixar sentir, se deixar viver, se deixar cair pra aprender a levantar. É preciso dar uma chance à vida e seu curso sem impendí-la, sem barrá-la com medos. Não quero construir muros, não quero criar mais barreiras. Mas é difícil impedir quando o cérebro envia essa mensagem de "se proteja, agora" o tempo todo. É difícil impedir quando esse mecanismo toma o comando, saí na frente e sái decidindo tudo sem perguntar antes se pode. Como adormecer esse instinto? É a questão. Já o adormeci uma vez, não lembro como. Uma hora dessas eu descubro, uma hora bem em breve.

O dia terminou e não fiz meus trabalhos. Meu personagem também finge não se preocupar com trabalhos. Começo a odiá-lo. Os minutos dele estão contados.

3 comentários:

isabela. disse...

ah trabalhos...

Duda Bandit disse...

bem... de minha parte o cair pode ser motivo para voar.

legal aqui.

Lila Ricken disse...

eu ia comenta algo legal...
mas ai eu li "Às vezes é preciso se deixar sentir, se deixar viver, se deixar cair pra aprender a levantar" e as palavras fugiram de mim por algum motivo.....

de qqr forma....

sinta-se abraçada!!!
adoro vc querida!