sábado, 12 de julho de 2008

escritos de papel amassado

Dias atrás, em folhas de papel.


Férias não fazem bem. Pra outras pessoas, em outras casas, fazem. Mas aqui não. Com tanto barulho e tanta briga não tem como descansar. Continuo histérica. Quando chega a noite, estou uma pilha e não durmo. A madrugada é o único horário tranqüilo aqui. É o período do dia que eu recupero o fôlego, respiro em sossego, sem algo de fora vir me pressionar até eu sentir que não caibo em mim. É o único momento do dia que me sinto acolhida em minha casa. Aí, eu só durmo quando começa a amanhecer, e o sono de manhã é tumultuado. É tudo tumultuado quando os outros acordam. É muita pressão, de todos os lados.

Agora são 00:45h, só agora fez-se silêncio porque só na minha casa uma criança de 8 anos fica acordada depois da meia-noite. É tão difícil entender esse ritmo, é tão ilógico. Não custa falar baixo, não custa não brigar, não custa conversar e tentar entender antes de explodir. Não custa. Não custa manter a calma. E esse parágrafo ficou pessoal demais, mas o que importa é que, a essa altura, se eu não escrevo eu piro. Chega um momento que a balbúrdia é tanta que fica complicado suportar.

Agora estou ouvindo a Adriana (novo álbum, Maré... fantástico. Não resisti e adquiri o original) na cozinha, deitada no banco. Poderia passar um dia inteiro assim. Mas esse é mais um momento em que eu não consigo me decifrar.

Me alterno entre a vontade de fugir daqui e a vontade de passar a madrugada nessa mesma posição. Entre o alívio de respirar de novo e o nervosismo engasgado, reprimido, recolhido por ver tanta discórdia em silêncio. Entre o choro de cansaço e o suspiro profundo pra recuperar todo o ar que não achei durante o dia. Entre meu próprio desgaste e a esperança. Entre querer rever todo mundo e querer sumir. Entre procurar entender tudo e querer pensar em nada. Entre a emotividade e a frieza. Entre o lirismo e a impessoalidade. Entre meus diversos eus. Ou entre as versões irreais de mim, aquelas que crio quando canso de tentar saber como explicar tudo, pra fugir das minhas explicações, pra fugir de ter que achar explicações. Às vezes eu me assusto com tudo que preciso enfrentar. Fugir é sempre mais fácil que enfrentar. Fingir é mais fácil que aceitar. Escrever é mais fácil que falar. E é incrível como dezenas de situações acabam de caber em três frases.

Tem coisas que a gente sente e não sabe como escrever, até conseguir e se surpreender. Ou até alguém conseguir por você. Está lá, em um livro, numa música, está lá. Já achei vários pensamentos meus, por mim indecifráveis, saindo assim de uma obra ou da boca de outra pessoa. Nessas horas eu pensei: “ufa! Não sou a única!” ou “Que bom achar uma tradução pra isso!”.

“A uma hora dessas, por onde andará seu pensamento? Terá os pés na pedra ou vento no cabelo? A uma hora dessas, por onde vagará seu pensamento? Terá os pés na areia em pleno apartamento?” Música da Adriana que está tocando agora e que fala, coincidentemente, do assunto que eu pretendia desenvolver em seguida. Muitas vezes eu tenho os pés na areia, brisa batendo no rosto, em pleno apartamento. Inúmeras vezes, no meio do caos, fantasio estar, sem nexo, em qualquer outro lugar (de novo Adriana fala junto comigo, e já é outra música =O). Me imagino em um fugidouro mais tranqüilo. Uma praia deserta só com o barulho do mar. Um gramado bem verde com céu azul, muitas árvores e o sol esquentando a pele sutilmente. Me imagino em qualquer lugar em que eu possa respirar em paz, a Pasárgada nos meus termos, um consolo, uma alegoria tomada como verdade por alguns segundos pra que seja possível manter a sanidade. Só o que eu faço é visualizar o lugar em que eu gostaria de estar. Aí eu corro e mergulho nos lugares, nos mares, nos abraços, nas pessoas, nas memórias, no futuro. Isso me salva. Me salva.

Tem vezes que eu sinto um desejo imenso de mergulhar na música, mas não do jeito que eu sempre faço. Alguns ritmos e notas deveriam durar pra sempre, a sensação que causam, a existência deles. Eu gostaria de mergulhar e sentir e me identificar com a música, vivê-la. Não no sentido de concordar com a letra ou ouvir minha vida sendo contada pelo artista. Me refiro a entrar e ser a música, viver os acordes sem palavras. Sentí-los não só como complemento, como companheiros, como trilha, mas sê-los, formá-los, tornar-me uma nota fundamental, funcionar no mesmo balanço, ser a sensação, ser a harmonia, ser a música. É isso. Eu queria ser música!

Tive uma manhã quase como as minhas de Recife. Academia, casa, banho, música e livro. Exceto pelo fato de que lá é mais silencioso e calmo. Exceto pelo fato de não ter brisa entrando pela minha janela nesse momento. Exceto pelo fato de que lá eu me sinto em casa.

Estou sem computador e está sendo bom. Ler, ouvir música, escrever no papel... estava arrumando um pretexto pra começar a fazer isso, tirar o computador da minha vida por uns dias, desviciar de umas coisas e viciar em outras menos nocivas. Por falar nisso, ontem comprei um CD bótimo do Toquinho (novo-velho-vício) por nove (NOVE) reais! Não pára (com acento, não vou deixar de usar acentos diferenciais) de rodar Adriana, Toquinho e KT no som, o dia todo, a noite toda, a madrugada toda. A cada música do Toquinho que descubro ou relembro, ganho um segundo a mais sorrindo. A cada vez que roda o álbum da Calcanhotto, acho mais alguma frase minha saída dela. A cada vez que ouço a KT repenso tudo que eu tenho vontade de falar, tomo fôlego, e não falo sabedeus por quê. Por aí vai. Está sendo bom.

Experimentei algo novo. Não é algo tão novo, mas não acontece há muito tempo. Não pretendo escrever muito sobre isso agora. Mas eu resolvi rezar, vieram as lágrimas, e não foram de tristeza, não exatamente. Não sei que palavra usar, mas, numa explicação mais ou menos aproximada, digo que foram de gratidão.

3 comentários:

Lucas. disse...

Lindo post.
e não é porque fui eu que li.

O negócio de ouvir palavras minhas em músicas, livros acontece comigo também. Muito.

E também não vou deixar de usar tudo que a reforma do português retirou. pelo menos não até que seja considerado errado mesmo. Principalmente a crase.

Bjo.

Lila Ricken disse...

caroooolll saudade fofaaaaa

sinta-se abraçada!!!

aquela garota ali disse...

Cárol!
menina gostei muito do escreve.

E acredite.. eu também queria ser "música".
E no momento, já que você falou da Adriana... não sei pq agora combina com "Esquadros".
Não sei se você escuta rádio, mas geralmente tem algumas músicas dela ali na 97.1!
Beijo menina..