Aos 19 anos, a gente bebe vodka nos queijos-do-amor (são bancos amarelos e escondidos da UTFPR) em aulas vagas, rasga folhas, desiste dos pontos de fuga (imagino você como uma arquiteta também, mães se espelham nos filhos... mas vai que até seu vestibular você me convence de outra coisa?), adia trabalho, conversa no tempo livre, e é super divertido. Mas no fundo, a gente morre de medo de estar brincando com fogo e só se dar mesmo conta disso ao se formar e não dar conta do recado.
A gente abraça demais (você vai ser uma abraçadora compulsiva também, é de família), gargalha, acha tudo engraçado, põe a mão no fogo por muita gente, bate e xinga os amigos íntimos, briga, pede desculpas, ama pra sempre e todas as variações disso. Mas dá um puta medo de que todo mundo suma ao final de alguns anos, porque “seremos amigos pra sempre” já ouvi vezes a fio, e em raras delas foi verdade. Dá medo! E as chances de você concordar comigo quando ler isso, minha querida, é infelizmente grande (mães e filhas concordam umas com as outras de vez em quando, UAU!).
Em vários momentos da vida, a gente escolhe quem deixar por perto e assiste quando vão embora. Não é sempre, mas acontece vezes o bastante pra quase te fazer desistir da humanidade (ou ter medo da morte, não da sua, mas dos outros). Quando somem podendo estar perto, a gente dá uma de orgulhoso e finge que não liga, uma das criancices que duram a vida inteira. Mas a verdade é que a gente sente uma enorme saudade de todos eles, e tem medo, mas medo mesmo, de ser sozinho no final das contas.
Em rodinhas, no bar, na esquina, a gente fala do futuro, diz o nome dos filhos (você se chama mesmo Inês? Ou Maria? Ou Marco Antônio? Ou Samuel? A lista que eu fiz é imensa!) e cria histórias dos amigos se encontrando em 10 anos. Um vestido de sfiha do habib's na Silva Jardim, outro gordo, outra freira, outra com 10 filhos, outra solteirona professora mal-comida do DADIN, outro amish, outra prestes a virar mãe pela 1ª vez (eu! =D) e etc. A gente planeja a grana, o carro e a Barcelona na sala. Sonhadores ou realistas, saberemos mais tarde. Mas a gente tem mesmo medo do que pode ser daqui até lá, e as brincadeirinhas engraçadas de humor-negro têm que pelamordedeus ficar só na brincadeira.
A gente mergulha na multidão, depois cansa dela. Foge nela e dela. No meio de tudo, diz que está tudo bem, que está superando e que as coisas caminham como devem. Mas a gente sente em cada olhada furtiva uma puta dor-de-cotovelo (ainda existe essa expressão?), se morde de ciúmes a todo instante, quase morre de saudades, o peito dói e a respiração pesa. As lembranças tomam conta, o olhar se torna vagovazio até que alguém diga "ei! tô falando com você!". E quando você estiver assim também e eu perguntar o que você tem, lá por volta de 2038 (=O eu vou estar velha! Céus!), possivelmente, você vai dizer que não tem nada, como eu acabei de dizer pra minha mãe.
Às vezes, a gente brinca com a vida, ri das emoções, fala "acho que eu sou meio burra" só pra justificar o coração teimoso. A gente tenta fazer as lágrimas virarem brincadeira, e quando não é possível dá pra esconder os olhos atrás dos óculos escuros (a moda agora é a de óculos gigantescos que cobrem o rosto inteiro, temos sorte. Se na sua época eles forem pequenos, vai ter que arrumar outro artifício). São disfarces e mais disfarces, porque a gente se acostuma com o constrangimento de deixar que vejam nossas verdades. Mas tem vezes que a gente precisa mesmo é falar sério, admitir em vez de esconder, poder chorar quando dá vontade, porra, e em algum lugar você vai achar quem te ouça (me surpreendi com isso hoje), mesmo que às vezes pareça difícil.
Não sei se você vai reagir como eu, mas tenho razões pra achar que também é uma tendência genética (torço pra te escolher um pai mais controlado que te salve dessa característica). A gente chega perto de quem se gosta e as cenas passam como borrões: misturadas, confusas e rápidas demais. A maior vontade é de abraçar forte e demoradamente, mas a gente acaba se impressionando mais vezes do que o necessário quando os segundos voam. Eles passam num grande branco sem registros e nos empurram pra minutos após quando o abraço já se desfez, quando não tem mais como abraçar o abraço almejado.
Só Deus sabe qual vai ser o remédio de vocês em 2038 (sério, não é legal repetir essa data). Agora, a gente escreve porque é seguro, porque poucos lêem blogs pouco divulgados (como esse) e é confortável desabafar sabendo que no dia seguinte as pessoas pra quem são dedicadas as frases provavelmente não saberão de nada caso a gente tenha se arrependido de escrever. Na verdade, isso é uma grande covardia (sua mãe tem seus momentos) porque as frases não deveriam ser escritos arrependidos, deveriam ser fatos falados.
Quando o coração prende na garganta, a gente adia, pensa em tentar, pensa em desistir, ou simplesmente acha que não adianta, mas tinha mesmo que chegar perto e falar a verdade pra nunca se arrepender de não ter falado. É melhor lembrar que o possível foi feito, porque só assim dá pra acreditar que as coisas são o que devem ser. É o famoso faça o que eu digo e não o que eu faço, não é mesmo? Por algum motivo eu parei na etapa de pensar em tentar ou desistir em silêncio (sabe, os momentos de covardia).
E quando a cabeça vira de ponta pro ar, demora um pouco até que tudo entre nos eixos, demora até a gente se achar de volta. Até que isso aconteça, numa hora as coisas parecem se encaixar nos seus devidos lugares pra no minuto seguinte o equilíbrio sumir outra vez. Os pensamentos não páram, não ficam em sossego num mesmo lugar, não se estabilizam. É exatamente isso que eu sinto agora.
Não só aos 19 anos, mas durante a vida, a gente faz de conta o tempo inteiro, mas tinha mesmo é que deixar de ser fingido, não acha? Isso é uma grande merda. Te digo que é melhor admitir, ainda que seja expositivo demais. É menos pesado. Carregar o silêncio nas costas pode ser desgastante. Talvez você se surpreenda ao notar mais semelhança entre nós do que imaginava. Ou então você é um rapaz e achou tudo isso um papo-de-mulherzinha insuportável (eu deixo você dar umas risadas da minha cara).
A você, filho ou filha. Um pedaço da parte frágil que os pais escondem dos seus rebentos. A nós, uma dose de transparência.
"...os edifícios abandonados, as estradas sem ninguém, óleo queimado, as vigas na areia, a lua nascendo por entre os fios dos teus cabelos... por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas."
Lenine ainda me trás alguma calma. Você gosta do Lenine ou acha brega-música-de-velho-coisa-do-século-passado?
2 comentários:
queria ter parado pra falar contigo hj.... até vi que vc não estava com aquele sorriso tão lindo no rosto... mas tava irritada demais comecei a passar por rodinhas sem parar em nenhuma pra não ter que conversar direito com ngm... e nem parei pra te dar atenção... =/
Enfim... concordei muuito com tudo isso ai... (tenho pensamentos próprios tá?!?!?!)
Ahn... "A gente planeja a grana, o carro e a Barcelona na sala." mto verdade... hahaha
os pais não podem se mostrar fracos, ou até um pouco mais humanos perante os filhos. Acho que assim perderiam a autoridade. Mas prefiro pensar que não.
Assim seriam mais gente.
papai ouve carpenters, e eu adoro.
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