terça-feira, 27 de janeiro de 2009

aquele blues

hoje quis gritar o blues de Cazuza com o bumbo na praça
(pois há um incêndio sob a chuva rala)
pra todos os rostos - a cada verso um rosto.
a cada trecho, mais alguém
a cada frase uma dedicatória.
foi bom. o ato. cantar pra todos muito embora não ouçam.
hoje foi bom, amanhã não seria necessário.
mas nada muda o fato de que se encaixam em tantos, os versos, em tantos!
não deveriam.
é esse o grande mal,
o grande responsável por todo o mal.
não digo ser diferente,
gostaria de ser, tento ser
e procuro acreditar que venço um pedaço insignificante a cada dia
mas sou ainda e sempre parasita do mundo e da vida,
(condição humana, burra condição)
também há o verso meu
(que me esbofeteia a face a cada vez que se faz existir em sons)
somos iguais em desgraça, afinal.
uns mais, outros menos, somos todos iguais.

domingo, 25 de janeiro de 2009

meta morfo ose

Como a cobra trocando de pele ou a borboleta mudando a cor das asas são as minhas metamorfoses, embora eu prefira borboletas a cobras. Fases que sempre foram um enigma, talvez por eu nunca ter tentado entender o processo. O mundo muda o tempo inteiro, gratativamente. Todo mundo vê e percebe. Mas às vezes é diferente, e nunca procurei saber se é só comigo (curiosidade). É algo que pára de ser gradual e, de repente, se torna explícito. Os motivos que desencadeiam essa reação nunca são os mesmos, não são nem sequer semelhantes. Há vezes até sem motivo. É bombástico e explode numa velocidade imensurável, repentinamente, sem aviso (e digo ser esse o único ponto em comum entre todas as metamorfoses).

Os textos estão incompletos em sua maioria, nunca sei como finalizá-los. Escrevo duas frases, deixo o resto pra depois. No dia seguinte, releio e adio mais uma vez. Até que isso se repita consideralvelmente, até que as duas frases percam o sentido, até que com as frases suma também o sentido de escrever aquilo que comecei, até que aquele pensamento de início tenha se transformado em outro completamente diferente. Hoje percebi que são folhas e mais folhas no caderno que estão sem continuidade. E a maioria vai continuar assim porque não acho continuidade para elas.

Em um momento coisas-chave do meu dia-a-dia parecem importantes demais. Depois parecem que não deveriam significar tanto, embora signifiquem (irrita). No momento seguinte já não importam. Mas o próximo dia amanhece e elas importam demais outra vez. É uma loucura! Em certos momentos é engraçado viver essa fase, mas em outros é mesmo incômodo (mais um ponto de instabilidade... como algo poderia ser cômico e desagradável ao mesmo tempo?). Até a forma de ver isso acontecer muda de minuto pra minuto. É nessas horas que eu penso se não é todo humano um pouco louco, ou se quanto mais humano mais louco, quanto mais loucura mais se sente e por aí vai... Todo mundo é parte louco, ou sou eu, ou ..... existe limiar entre a normalidade e a loucura? Acho que já me perguntei isso uma vez.

Sei que tudo isso acarreta mudanças muito drásticas e rápidas, mesmo que eu nem saiba direito o que já mudou. Mas dá pra sentir mesmo sem saber o quê. É tão estranho! Os textos que escrevi há dois, três, sete dias, ontem... me parecem palavras de anos atrás, como se eu de repente olhasse pra minha infância e me divertisse com a ingenuidade daquilo. Os mais fortes tendo a apagar, e foi assim que muitos blogs meus foram deletados . As vezes quero apagar tudo, ou fazer outro blog em anonimato pra mudar completamente de vertente, pra publicar todos os textos que não teria coragem de atribuir a mim. A vontade vai e volta, e só não faço um blog pros meus textos proibidos porque já tentei anonimato várias vezes, e em todas acabei sendo descoberta. Prometi não reler meus últimos textos concluídos (publicados ou não), pra não querer apagá-los, pra não destruir todos os registros que podem ser importantes pra mim num futuro distante. Aliás, já são muitas as promessas que me fiz. Algumas já perderam sentido de ser, outras são óbvias e não sei por que precisaram ser promessas, outras perduram com dificuldade... Os detalhes se perdem. De repente os motivos que me levaram a um pensamento ou outro, uma promessa ou outra, caem no esquecimento. E eu que sempre lembro detalhes de tudo, subitamente não me reconheço por não lembrar o que pensava ao encostar a caneta naquela folha horas ou dias antes.

Como se minha personalidade fosse anulada por dias ou meses pra formar outra. Como se outra Carol estivesse nascendo, não aos poucos como acontece na maior parte do tempo, mas de forma rápida e conclusiva. É quando os antigos pensamentos e as antigas opiniões precisam se adaptar com urgência porque não funcionam mais. É o momento em que eu não funciono mais pra mim e preciso mudar rapidamente pra entrar em concordância de novo, pra combinar de novo, pra sintonizar de novo. É quando eu preciso me achar, me descobrir mais uma vez (tipo puberdade fora de época, pra ser mais taxativa, apesar de que odiei nomear assim). Acho que é isso que acontece. Quando algum acontecimento me provoca sentimentos muito fortes, começa meu período de mutação explosiva. Eu sumo (não fisicamente, das pessoas ou do mundo... o que eu costumava saber de mim some) durante um tempo, e fico assim, mudando de ponto de vista e opinião o tempo inteiro. As palavras perdem significado, as frases de ontem soam como lembranças remotas de um passado muito antigo, as frases novas não harmonizam com as de antes e a mudança de um dia pro outro é tão notória que chega a assustar. Acho que cresço muito rápido nessas fases.

As músicas estão parando, finalmente, e os sonhos me incomodam menos agora. Começam a ser esporádicos e mais controláveis. Me orgulhou um deles em especial, o último. Foi muito bonito, terno e real. Daqueles sonhos-de-verdade que só uma pessoa lembra quando acorda, e só eu lembro, provavelmente. Fui mais sensata do que poderia prever e vi minha postura como fator determinante pra firmar em breve o equilíbrio dos meus pensamentos e atitudes. Fica em mim a lembrança daquele momento bonito. E que esteja só em mim, conscientemente, já parece bom o bastante.

Por enquanto estou burra, sem personalidade, falando diferente-destrambelhada-estranha-compulsiva, não sei quem sou o que penso o que quero (agora foi aliviante confessar, mas logo será constrangedor), e se me perguntarem qualquer coisa profunda sobre a natureza humana ou sobre a minha natureza vou responder que nem modelo: "ããããã, éééée, tipoooooo, hummmm, cara, tipo foda isso... acho-que-sei-lá!". Dá vergonha, eu admito. Mas mantenho a calma porque já aconteceu muitas vezes. E isso dura pouco tempo até que finalmente alcanço a estabilidade, descubro o que procurar, pontuo o que quero e não quero, redescubro o que gosto e não gosto, decido como quero agir no futuro, encontro o ângulo de visão que mais me parece coerente, marco os defeitos que vou melhorar em mim, mentalizo os erros que me recuso a repetir, e saio em busca de tudo até achar o que preciso, até a próxima metamorfose.

Enquanto isso eu permito que vocês dêem umas risadas. Tô bem burra-caricata mesmo, até eu rio disso (dependendo da hora). É curioso. Mas dá um nó na cabeça muito grande mudar de opinião a cada minuto. Começo a cansar. Mas daqui a pouco isso pára, tudo se estabiliza, eu volto a ser uma pessoa (consciente da condição de ser e saber ser pessoa) e espero sentir que a mudança valeu à pena. Seria engraçado (ou não) ouvir a opinião de um psicólogo (eles iam viajar e criar teorias mirabolantes, com certeza). Um dia, ainda acho mais alguém que tenha isso pra que eu me sinta um pouco mais normal.

"eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo..." Ó céus! Achei mais alguém, apesar do Raul não ser o maior exemplo de sanidade que eu já vi. Acho "ambulante" um exagero, e o que eu quero dizer não chega a ser oposto ao que eu disse antes, é só diferente. Meta morfo ose (do jeito que escreve parece até doença)... meta não seria parcial? Talvez Raul seja louco-exagerado e eu seja louca parcial. Vai saber lalaiá-laiá... ♪

Meta (agora como objetivo): achar alguém suficientemente são que compartilhe desse fenômeno comigo, além do Raul. ¬¬

*Agora, voltarei pra varanda porque Recife está lindo, liiiiiindo demais!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

minutos de Lily

Na temperatura subitamente febril, notando rubras as faces (sentindo como Lily Brown), as mãos em descontrole encontram os bolsos. O sorriso nervoso assume até ser inevitável a evasão automática não-pensada. As cenas passam como um flash borrado sem que os detalhes sejam vistos. Rápido, confuso, tocante, penetrante. As pessoas e as vozes somem de repente e tudo vira um redemoinho de coisas não identificáveis. Redimo-me, em um olhar, dos meus excessos e algumas faltas. Olhar que não passa, exceto para mim, de um qualquer. Olhar. E as palavras que ele contém se perdem no momento fugaz entre a prosa e a parada, entre a observação atenta e o tímido desvio. São palavras que agora escrevo (madrugada) sem enxergar as linhas ou o papel. Só para que não se percam antes que termine o dia. Antes que chegue o sono e cheguem os sonhos que não quero ver.

Na espera, vou negando as aparências, disfarçando evidências, e os cigarros que não fumei me roubam o cheiro que quero, espero. Roubam-me tudo. Tudo me rouba. Os sentidos. Os sentidos me roubam. Os olhos caminham em volta procurando o tempo inteiro, então as músicas (tantas) aparecem quando menos quero ouvir, na rua na mesa na boca, na minha ou em outra boca.

ah! eu juro... eu juro! (acordei com essa de novo, sem ouvir sem como sem querer)

Até um dia!
Recife me chama.

domingo, 18 de janeiro de 2009

saudades da lyginha.
pseudoaniversário dela.
espaço de hoje em dedicação exclusiva.
(f)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Editado. Falatórios podados.

Do filme de hoje: “Talvez a saída esteja em não desistir de procurar uma saída, mesmo que ela não exista!” ... Uma mentira bonitinha.

Cinema. Grande arte. Textos excepcionais que me fizeram desejar a qualquer custo um livro deles. E a cada vez que minha vida se esbarra com essas obras, eu sinto mais uma vez como elas fazem bem e o hábito vira um vício muito rapidamente adquirível. Ouvi as mais belas frases que talvez já tenha ouvido e quis muito que várias daquelas frases chegassem como um megafone no ouvido do mundo. Parece que o filmes me escolheram e não o contrário. Chegaram na hora exata e me fizeram ver situações por outros ângulos, e aceitar mais ângulos. Não pondo em dúvida minhas verdades. São verdades, mas não são as únicas.

Descobri que gosto de poesias mais do que imaginava. Costumo dizer que não gosto delas, mas eu não gosto é de rimas. Não que não tenham seu valor. Mas não gosto da sonoridade. Parece ensaiado demais, artificial, planejado. Não tem liberdade, parece que nem sempre pode falar o que quer falar, nem sempre poder tocar como quer tocar, porque o poema fica preso, a sonoridade é repetitiva (obviamente) e impede que o leitor entre e se encaixe e se embale profundamente nas palavras. Dei sorte com os pacotes de poesias, e o trajeto do ônibus durou o tempo perfeito para que eu pudesse lê-los com atenção e escolher os preferidos (posto algum aqui em outra oportunidade). José Paulo Paes e Fabrício Carpinejar. Adorei.

Agora tenho cadernos pra registrar as frases e textos que se perdem por falta de papel, como muitas durante essas férias. Se se não fosse algo breve que pudesse caber facilmente numa nota fiscal de supermercado, acabava se perdendo. Fiz dedicatórias nas primeiras folhas. Sempre imagino, daqui a 30 anos, o envelope chegando pelo correio na casa de um grande amigo ou amiga, com um caderno dentro e um bilhete escrito: “Achamos que devesse ficar com você, o(a) único(a) que podia lê-lo. Faça dele o que quiser.”. Acho poético. Sabedeus por quê. Mas acho.

planeta chatoniano

[se me permites, murilo.... porque há momentos que são impagáveis e esse eu precisei registrar.]

Murilo diz:
meeeu. vc falo chata lembrei... conheci uma menina q lembra mto vc no jeito dela
carolina carolcarol diz:
vc conheceu uma menina chata que te lembrou de mim ¬¬ adorável isso
Murilo diz:
uhaahuuhahuauha entao... ela eh xata de um jeito legal. isso eh tao raro. vc eh assim tbm soh q eh mais legal e menos chata do q ela
carolina carolcarol diz:
como vc define a dela/minha/nossa chatice?
Murilo diz:
como uma implicancia generalizada sobre tudo que eu gosto/faço/ouço/conheço/desejo e discordancia com todas as minhas opinioes...
carolina carolcarol diz:
que nada. vc que resolve gostar das coisas que eu odeio. meu ódio é primordial
Murilo diz:
mas soh q tpw... 2 pessoas q nao gostam da msma coisa nao deveriam nem ao menos conversar... que dira serem amigas jah q todos os papos incluem algum tipo de zuacao com o outro. mas ateh q eh legal
carolina carolcarol diz:
discordo. tive poucos amigos que tivessem exatamente os mesmos gostos e opiniões que eu. tipo, em tudo
Murilo diz:
se vc concordasse eh q seria estranho. entao... vcs sabem encher o saco sem ultrapassar o limite
carolina carolcarol diz:
tem uma amiga que parece mais comigo, em questão de chatice e gosto musical e gosto por todas as coisas, e a gente se dá meio mal.
Murilo diz:
ok... vcs sao de outro mundo... q soh se dao bem com pessoas desse mundo... e pessoas do seu mundo conflitam... chamaremos seu mundo de "o mundo dos chatos". qndo encontrarmos alguem proveniente de lah, vc deve se retirar imediatamente... indentificaremos o ET como chaterrestre
Murilo diz:
nao gostei do nome
Murilo diz:
chatoniano
Murilo diz:
bem melhor
carolina carolcarol diz:
ahuahauahua
carolina carolcarol diz:
dooooooreeeeeeeei! eu sou uma chatoniana!
Murilo diz:
hauuhauhahua
chatoniana carolina diz:
ahahauahuahua
Murilo diz:
ow carol eu nao vou precisar ver o filme gay depois neh?
chatoniana carolina diz:
Gérard Depardieu é Alain Moreau, um cantor de boate que faz sua vida em boates locais, chás dançantes e convenções de fábricas. Ele sabe que nunca será um grande cantor, mas ama cantar e esta é a sua vida. Até encontrar Marion (Cécile De France), uma mãe solteira com um triste passado...
chatoniana carolina diz:
olha! eh frances! deve ser super artistico
Murilo diz:
entao. estamos de fehrias. precisamos de hollywood e nao arte. PENSEM POR MIM!
chatoniana carolina diz:
filmes franceses sao otimos! nao eh um filme cult de pensar. eh um filme bonito frances
Murilo diz:
GAY
chatoniana carolina diz:
deixe de preconceito e assista
Murilo diz:
estudos de antropologos e ufologistas confirmam que para uma boa convivencia com chatonianos eh necessario fazer com q os mesmos o convencam a fazer as coisas... eles fazem isso bem...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

apenas em disfarce.

Andou pra frente sem tempo de olhar atrás para ver se afastar, com o vento, a querida parte que lhe fora perdida. A vontade de dar meia-volta e a sensação de querer tanto o que não se repetiria tomou-lhe por inteiro, dos pés até travar na garganta, até entender o que acontecera, até se despedir tremulamente, agora em pensamentos (lembrando inevitavelmente os atos, os sentidos). E, entre um suspiro e outro, se percebeu cercada de dezenas de olhares desconcertantes, pelos vinte minutos que se seguiram, condolentes e nada discretos. Dezenas, dentro e fora do trem (pois, chapeus e óculos escuros não são mais proteção a partir de determinado horário). Tudo (que era muito) juntamente com a seqüência de músicas no rádio de bolso tocando, ironicamente, como trilha (mais uma) da pontada que lhe tirava a força, como alfinete na ferida. Pareceu-lhe inacreditável que assim tenha sido: Mal nenhum me deixem amolar e esmurrar a faca cega, cega, da paixão, e dar tiros a esmo, e ferir o mesmo cego coração, Completamente Blue como é estranha a natureza morta dos que não têm dor! como é estéril a certeza de quem vive sem amor!, Todo amor que houver nessa vida e o corpo inteiro como um furacão: boca, nuca, mão e a tua mente não (versão de Caetano), Eu preciso dizer que te amo eu perco o sono lembrando em cada riso teu qualquer bandeira... te ganhar ou perder sem engano... tanto! (justo essa) e, pra fechar, a música do Moska na voz de Mart’nália... a última canção que sempre quis dedicar sem nunca tê-lo feito (dedico agora em forjada discrição como pedaço dos meus pensamentos, como última declaração ou jura, como despedida). Quase inacreditável mas assim foi, nessa ordem, uma atrás da outra. Ironias, grandes ironias. Porque no meio de tantas, justo essas tocaram. E assim desistiu de músicas, pelo menos por aquele dia. Andando pra frente, tentando ser durona e, mais tarde, se rendendo às suas já explícitas saudades, planejando silenciá-las (o sigilo, o amigo de sempre, sigilo) o quanto antes.
(e a partir de agora me calo quanto a isso, pelo menos publicamente, pelo menos explicitamente... a não ser que elabore um disfarce bem melhor que esse, digno da alcunha de disfarce
)
OBS: O link vale pela música, jamais pelo vídeo.

Sorvete com a irmã! (nem era afim do sorvete, mas não dá pra quebrar tradição)

Ou talvez não sejam meus, nem nunca tenham sido, nem nunca venham a ser.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sentou no sofá, a música alta, a televisão muda ligada... Escolheu um canal qualquer, sem critério, sem atenção. Deixou a mão soltar o controle apenas quando cansou, cansou de procurar.... (é, dá pra cansar de procurar canais de televisão). Talvez seja o auge do tédio que impeça até o tédio-de-ver-tv de se concretizar. Pensou no que incomodava, pensou no que doía, pensou nas dores que se repetem fatigantemente, e depois cansou. Ficou por horas olhando a televisão distraída, cena após cena sem significado algum. Um filme qualquer com personagens quaisquer, coisa alguma ali possuía originalidade suficiente pra lhe despertar dos seus devaneios. Longas metragens medíocres. Longas que acompanhavam uma série de curtas ali, passando na sua cabeça. Ali, suas metragens. Umas criadas sem muito pensar, dariam uma imbecilidade qualquer bem como aquela que assistia. Outras eram reais, e algumas a faziam querer que não fossem nada além de nada. Entre suas frivolidades, o esmalte vermelho descascado (acetona! fingiu querer para esquecer qualquer outro desejo). O esmalte vermelho, o odiado sofá verde-folha, quanto mau-gosto!, o livro ali do lado sem ser aberto. Deixava a televisão só para fitar a capa do livro que não quis ler, mal percebendo a ordem aleatória da lista de reprodução que escolheu, sinistramente, as maiores melancolias de Lisa Hannigan pra tocarem uma atrás da outra. Horas se passaram, ela, seu silêncio, e suas indagações dispersas, até o filete de sangue vermelho-pitanga pelo queixo da moça gritando silenciosa na tela lhe despertar, por segundos, enquanto censurava, mais por mania do que por censo, nunca vi sangue dessa cor.
Estive atento às prognoses de um coração marcado. Aos olhares lacônicos, furtivos; aos olhares industriosos, penetrantes. Estive atento à chegada inebriante, às insinuações ponderadas, à dúvida encoberta, à súplica por ceretza. Estive atento aos carros, às criancinhas, aos senhores e suas senhoras. Estive atento aos ingênuos, aos amargos, aos amantes. Por muito tempo, estive atento. E digo que dos objetos de minha atenção, nem todos me foram úteis. Seriam suficientes uns poucos, quedaria-me no simples ato da observação adorada. E são esses poucos os grandes brilhos do meu dia... (serão meus ainda e sempre).

dura a vida alguns instantes quando cada instante é sempre

domingo, 11 de janeiro de 2009

Transparece, então, o paradoxo de ser humano imerso imersoimensointensodisplicentedispensável em falhas e discordâncias. Porque, uma vez pertencendo a tudo que vivi, só me resta o silêncio cúmplice, culpado, sem direito a exigências. Um exemplo? Nos permitimos escrever até doer, em certos dias, mas, nesses mesmos dias, não falamos, não queremos nem sequer cantar (por um motivo ou outro, ou por motivo algum). A questão é: mesmo diferença entre palavras escritas e faladas? Por que não há paz em se sentir bem em silêncio com uma música qualquer? Por que o mundo duvida da alegria por não ser sempre saltitante? Por que minha alegria não pode, vez ou outra, se deixar descansar, se aconchegar em mim pra adorar os acordes que ouvimos juntas? Por que não há paz? Não pode haver paz? Há sentido em selecionar frases com significados pela metade para que o ínterim do texto, guardado em algum lugar, permaneça em sigilo? Pra quê sigilo? Há sentido? Agora, literalmente, existe sentido em algum lugar... qualquer lugar? Quem o inventou? Pra quê serve?

Existe?