sábado, 12 de julho de 2008

escritos de papel amassado

Dias atrás, em folhas de papel.


Férias não fazem bem. Pra outras pessoas, em outras casas, fazem. Mas aqui não. Com tanto barulho e tanta briga não tem como descansar. Continuo histérica. Quando chega a noite, estou uma pilha e não durmo. A madrugada é o único horário tranqüilo aqui. É o período do dia que eu recupero o fôlego, respiro em sossego, sem algo de fora vir me pressionar até eu sentir que não caibo em mim. É o único momento do dia que me sinto acolhida em minha casa. Aí, eu só durmo quando começa a amanhecer, e o sono de manhã é tumultuado. É tudo tumultuado quando os outros acordam. É muita pressão, de todos os lados.

Agora são 00:45h, só agora fez-se silêncio porque só na minha casa uma criança de 8 anos fica acordada depois da meia-noite. É tão difícil entender esse ritmo, é tão ilógico. Não custa falar baixo, não custa não brigar, não custa conversar e tentar entender antes de explodir. Não custa. Não custa manter a calma. E esse parágrafo ficou pessoal demais, mas o que importa é que, a essa altura, se eu não escrevo eu piro. Chega um momento que a balbúrdia é tanta que fica complicado suportar.

Agora estou ouvindo a Adriana (novo álbum, Maré... fantástico. Não resisti e adquiri o original) na cozinha, deitada no banco. Poderia passar um dia inteiro assim. Mas esse é mais um momento em que eu não consigo me decifrar.

Me alterno entre a vontade de fugir daqui e a vontade de passar a madrugada nessa mesma posição. Entre o alívio de respirar de novo e o nervosismo engasgado, reprimido, recolhido por ver tanta discórdia em silêncio. Entre o choro de cansaço e o suspiro profundo pra recuperar todo o ar que não achei durante o dia. Entre meu próprio desgaste e a esperança. Entre querer rever todo mundo e querer sumir. Entre procurar entender tudo e querer pensar em nada. Entre a emotividade e a frieza. Entre o lirismo e a impessoalidade. Entre meus diversos eus. Ou entre as versões irreais de mim, aquelas que crio quando canso de tentar saber como explicar tudo, pra fugir das minhas explicações, pra fugir de ter que achar explicações. Às vezes eu me assusto com tudo que preciso enfrentar. Fugir é sempre mais fácil que enfrentar. Fingir é mais fácil que aceitar. Escrever é mais fácil que falar. E é incrível como dezenas de situações acabam de caber em três frases.

Tem coisas que a gente sente e não sabe como escrever, até conseguir e se surpreender. Ou até alguém conseguir por você. Está lá, em um livro, numa música, está lá. Já achei vários pensamentos meus, por mim indecifráveis, saindo assim de uma obra ou da boca de outra pessoa. Nessas horas eu pensei: “ufa! Não sou a única!” ou “Que bom achar uma tradução pra isso!”.

“A uma hora dessas, por onde andará seu pensamento? Terá os pés na pedra ou vento no cabelo? A uma hora dessas, por onde vagará seu pensamento? Terá os pés na areia em pleno apartamento?” Música da Adriana que está tocando agora e que fala, coincidentemente, do assunto que eu pretendia desenvolver em seguida. Muitas vezes eu tenho os pés na areia, brisa batendo no rosto, em pleno apartamento. Inúmeras vezes, no meio do caos, fantasio estar, sem nexo, em qualquer outro lugar (de novo Adriana fala junto comigo, e já é outra música =O). Me imagino em um fugidouro mais tranqüilo. Uma praia deserta só com o barulho do mar. Um gramado bem verde com céu azul, muitas árvores e o sol esquentando a pele sutilmente. Me imagino em qualquer lugar em que eu possa respirar em paz, a Pasárgada nos meus termos, um consolo, uma alegoria tomada como verdade por alguns segundos pra que seja possível manter a sanidade. Só o que eu faço é visualizar o lugar em que eu gostaria de estar. Aí eu corro e mergulho nos lugares, nos mares, nos abraços, nas pessoas, nas memórias, no futuro. Isso me salva. Me salva.

Tem vezes que eu sinto um desejo imenso de mergulhar na música, mas não do jeito que eu sempre faço. Alguns ritmos e notas deveriam durar pra sempre, a sensação que causam, a existência deles. Eu gostaria de mergulhar e sentir e me identificar com a música, vivê-la. Não no sentido de concordar com a letra ou ouvir minha vida sendo contada pelo artista. Me refiro a entrar e ser a música, viver os acordes sem palavras. Sentí-los não só como complemento, como companheiros, como trilha, mas sê-los, formá-los, tornar-me uma nota fundamental, funcionar no mesmo balanço, ser a sensação, ser a harmonia, ser a música. É isso. Eu queria ser música!

Tive uma manhã quase como as minhas de Recife. Academia, casa, banho, música e livro. Exceto pelo fato de que lá é mais silencioso e calmo. Exceto pelo fato de não ter brisa entrando pela minha janela nesse momento. Exceto pelo fato de que lá eu me sinto em casa.

Estou sem computador e está sendo bom. Ler, ouvir música, escrever no papel... estava arrumando um pretexto pra começar a fazer isso, tirar o computador da minha vida por uns dias, desviciar de umas coisas e viciar em outras menos nocivas. Por falar nisso, ontem comprei um CD bótimo do Toquinho (novo-velho-vício) por nove (NOVE) reais! Não pára (com acento, não vou deixar de usar acentos diferenciais) de rodar Adriana, Toquinho e KT no som, o dia todo, a noite toda, a madrugada toda. A cada música do Toquinho que descubro ou relembro, ganho um segundo a mais sorrindo. A cada vez que roda o álbum da Calcanhotto, acho mais alguma frase minha saída dela. A cada vez que ouço a KT repenso tudo que eu tenho vontade de falar, tomo fôlego, e não falo sabedeus por quê. Por aí vai. Está sendo bom.

Experimentei algo novo. Não é algo tão novo, mas não acontece há muito tempo. Não pretendo escrever muito sobre isso agora. Mas eu resolvi rezar, vieram as lágrimas, e não foram de tristeza, não exatamente. Não sei que palavra usar, mas, numa explicação mais ou menos aproximada, digo que foram de gratidão.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

é um mundo e dentro um mundo. e dentro é o mundo que me leva...

Cheguei a uma conclusão. Finalmente. Facilitaria se eu fosse mais rápida com essas coisas, mas já que não sou me contento em ficar me batendo com tudo até achar as soluções.

Acho que não concordo mais com parte do meu último post anterior (comentário ridículo do tipo pré-adolescente-em-crise-existencial). O que um lápis de cor não faz? Me dei conta de que só usei meus queridos lápis uma vez nesse período inteiro! E eu amo lápis de cor, amo! E nem encostei neles, meodeos. Descobri também que não tenho papel branco texturizado pra desenho tamanho A4. Há quanto tempo eu não desenho? Como assim estou à séculos sem folhas e nem me dei conta? E aí precisei da régua. Meodeos, cadê minha régua? Tinha esquecido que régua existia, mas achei uma quebra-galho. Depois fui atrás dos meus lápis preto e verde. Quase não achei também. E aí precisei de compasso. C-O-M-O-A-S-S-I-M meu compasso sumiu e eu não fazia nem idéia de onde pudesse estar? O que eu fiz nesse período inteiro? Tá, eu usei compasso até um dia desses, até dia 19 de junho, se não me engano. Mas depois disso ele sublimou e eu nem percebi. Meu material todo acabou e eu nem percebi. Passei 6 meses sem grafites 0.5 e 0.7, passei 6 meses com um toco de 6B (que permaneceu intocado nesse tempo). Passei meses sem borracha, meses sem limpa-tipos (e houve um tempo em que eu não respirava sem limpa-tipos do lado). O quê raios eu fiz nesse período? Se não fosse por ilustração, meu já-pouco-evoluído-lado-artístico teria ficado completamente abandonado. Que saudade do 1° período cheio de tintas e lápis e nanquim! Era bonita a época (não a época, mas essa parte da época) em que eu não saía de casa seu lápis e papel pra desenhar desenhar desenhar.

Enfim, voltando... Minha adorável mãe, bendita seja, estava ouvindo música na cozinha, e ô mulher pra ter bom gosto! Aquele silenciozinho em casa quebrado apenas pela excepcional música, aquele sossego, aquela paz.... Senti uma sensação de aconchego ou de deslumbramento, semelhante a quando paramos de frente pro mar, fechamos os olhos e sentimos a brisa. Foi um daqueles minutos que eu gostaria de eternizar. Sentei, fechei os olhos e fiquei sentindo o momento. E aí eu fui buscar material (demorei um pouquinho pra achar mas...). Coloquei papéis, lápis, régua, esquadros e compasso em cima da mesa e comecei a fazer tudo com bastante calma. Ah! Como é bom! Principalmente quando não tem a pressão da entrega do dia seguinte, é uma delícia fazer algo com capricho. Fiquei faceiríssima mexendo de novo com lápis de cor. Te-ra-pêu-ti-co. Estava morrendo de saudade disso e não tive tempo nem pra perceber. Agora são 03h30. Queria continuar pintado e pintando e pintando, mas lembro de ter achado uma contradição Luciana-Tatiana uma vez conversando sobre que cor vem antes e que cor vem depois e aí não quis arriscar o verde por baixo do preto. A cada dia descubro mais um remédio pra qualquer coisa. Foi assim que, pintando e ouvindo música, comecei a pensar (parecia ser a “outra forma de pensar” - mencionada no post passado – ideal, justamente a que eu procurava). E agora que não tenho mais como pintar, vim aqui escrever porque não quero dormir e perder o clima gostoso que está aqui em casa. Pelo menos por agora tudo faz muito sentido. Pelo menos por agora parece tudo bastante claro. Seja por que ficou claro, seja porque o clima perfeito do lar esteja influenciando esse meu estado embasbacado, essa mistura de êxtase, alívio e tranqüilidade.

Tenho que parar de me incomodar tanto comigo. Parar de querer ter minhas emoções todas sempre sob controle, parar de ter medo de errar, parar de perder o chão a cada vez que não me entendo. Mania chata de libriano. Como diz a prof-perfeita-Luciana, o libriano sempre está numa busca desesperada por equilíbrio, mas nunca alcança o equilíbrio. =p

Acho que, hoje, cheguei ao famoso estado de ‘toquei-o-foda-se’ (só lembrete: estou em processo de voltar a ser uma menininha. Juro que vou voltar uma lady às aulas). Ainda acho que não devo dar um caráter material às minhas lembranças (como em mil embalagens de perfumes, dezenas de roupas, embalagens de doces e sabe-deus-mais-o-quê). Mas, que saber? Não vou mais me incomodar quando a saudade bater forte, me entorpecer, embaçar meus olhos e me fizer enxergar nitidamente só o que já foi. Acontece, é assim mesmo. É assim e sempre vai ser, querendo ou não. E se é assim, melhor aceitar do que ficar me incomodando.

Minha manhã também influenciou. Entrar no conservatório e ver que em breve estarei lá, depois de tanto tempo, finalmente estudando piano de novo, me deixou cheia de expectativas, cheia de entusiasmo.

E a situação:
- Você é a Carol, né? “A” Carol..... né? A... A... do... né? Eu lembro de você.
- Sou. É. Também lembro de você. Como você está?

E meu estado pós-impacto foi um pouco menos drástico do que costumava ser. Teve o zunido no ouvido, a cabeça pesando, a desorientação, a volta de milhões de flashes, mas eu consegui me recuperar. E isso me mostra que o papo de ser esmagada por tudo que eu cultivo é balela. Hoje tive mais uma prova, dentre todas as outras muitas provas que venho tendo, de que eu posso levantar a cabeça apesar das dores e das saudades, se eu me esforçar.

Às vezes, a saudade nos engole mesmo, nos imobiliza. Uns dias são mais difíceis. Em uns dias a gente vive de passado. Mas aí a gente sente, lembra, chora, e levanta. No outro dia, está tudo bem, a saudade está ali, mas com cumplicidade. No outro dia a força volta e dá pra viver de novo, dá pra olhar pra frente de novo. Em uns dias o passado se faz presente e machuca mesmo. Dá aquele aperto e a sensação de que o desespero pra lembrar de tudo vai tomar um espaço grande demais pra ser possível seguir. Mas eu não vou acabar num sofá, quieta, sem criar novas histórias só pra não mexer nas antigas. De onde eu tirei isso? As minhas histórias continuam lá no passado, continuam aqui comigo. E eu tô vivendo, não tô? Mais do que eu podia prever. Então pronto, resolvido.

PS: Milagrosamente, todos os horários do Conservatório são perfeitos pra minha disponibilidade. Pra mim, algo tão simples virou O sinal de que eu consigo (verbo transitivo que pode ser completado com diversos itens).
Delícia de MÚSICA que eu estava ouvindo hoje.

domingo, 6 de julho de 2008

“enquanto espero, escrevo uns versos. depois rasgo.”

Voltei. Talvez tenha voltado. Não que eu esteja morrendo de vontade de escrever aqui. Nessa semana me alternei entre a vontadezinha e a não-vontade (palavra inventada agora). Quis escrever, mas não aqui. Acabo escrevendo um monte de textos que não publico. Acabo pensando em um monte de textos que não escrevo (lembrei agora de uma música lindíssima com a Adriana).

Pausa pra super notícia: vai ter um super show dela em Curitiba, no dia 27 de setembro. Eu preciso MUITO ir, eu super vou, vai ser meu presente de aniversário pra mim.

Pausa pra segunda super notícia: Lenine lança novo álbum de músicas inéditas em Setembro! Lenine – Labiata. Ó céus, meu coração!

Pausa pra terceira super notícia: é possível que eu super vá à falência por dois anos, porque também vai ter Maria Rita, e eu não sou nada afim de perder.

Sobre ontem, acho que estou ficando velha. Acho mesmo. Não tem jeito. Programa bom é museu, teatro, filme, dança/música, parque, jantar com os amigos, barzinho e violão, ou um bom show. Sentar e conversar sem ter que arrebentar as cordas vocais. Ouvir boa música num volume agradável. Pronto. Passou disso já dá canseira. Porque é tão difícil as pessoas gostarem disso também, meodeos?

Vamos no Kapelle? “Ain, lá é vazio”. E no Ponto Final? “Ain, só toca música de velho.” E no Mambembe? “Ainnn, lá só dá velho”. Café do teatro? “Ain, só dá gay”. Pff, tá, você quer ir em algum lugar trilha-jovem-pan com um monte de desesperados que procuram beijar a maior quantidade possível de bocas, e você pretende ser uma delas... é isso? [a famosa cena: o que você queria dizer? Volta. O que você, de fato, disse?] E nessas horas é melhor nem dizer nada.

Eu cansei mesmo dessa juventude. Cansei mesmo dos alternativos. Amiga liga. “Vamos no VU?” Ãn? Onde? “VU.” É bom? “Não sei, nunca fui!”. Tá, tô indo aí. (minutos depois) O que tem lá hoje? “Aniversário da **”. Da quem? “Da **, não lembra dela? Trevosa, do mal, yé”. Ah! ¬¬ Trevosa, que só freqüenta bar alternativo, não lê nada que não seja Buchowski e se acha a filósofa por isso. ¬¬. “Essa, isso! É, aniversário dela!” Posso adivinhar? VU é um bar super alternativo. Acertei?....

Acertei. Lugar superescuro, superlotado, com música estranha superalta, e a gente tinha que berrar horrores pra conseguir conversar. A população indie-design de Curitiba estava inteira lá. Não que estudantes de design sejam indies. Não são. Os meus queridos designers não são. Mas a população-pseudo-cult-que-se-acha-deus-do-design é indie e chata demais. Estavam todos eles lá. “Oh, como sou underground. Eu só ouço música estranha que ninguém conhece. E se muita gente conhecer eu deixo de gostar. Eu só freqüento lugares estranhos, eu corto meu cabelo igual ao dos Beatles, vou beber até vomitar o bar inteiro. Ai, eu sou retrô, falo 10 palavrões em cada frase, sou doida pra caralho e minha mãe acha que eu sou lésbica. Uau, eu sou revoltada, uau, eu mando em mim, uau, eu acabo de tirar foto com cara de drogado com meu rímel escorrendo até o queixo, eu sou decadente, eu sou foda, uau, eu me comeria”. Não tenho mesmo paciência pra isso. Dá pra gostar de coisas antigas, dá pra ouvir Beatles, dá pra usar allstar e melissa, dá pra usar verde com vermelho, dá pra ouvir música antiga sem pagar uma de alternativinho-que-despreza-não-alternativinhos. Quem ouve Bob Marley tem que vestir blusa da Jamaica e fumar maconha? Quem faz Design tem que se vestir estranho e ser homossexual? Quem ouve rap tem que se vestir e andar que nem maloqueiro? Quem curte metal tem que se vestir de preto e deixar o cabelo crescer? Quem faz biologia tem que ter dreads, tocar maracatu e cheirar clorofórmio? É absurdo isso, pra quê criam tantos esteriótipos, e por que ainda tem gente que faz questão de se esteriotipar?

(Thiela e eu) "¬¬ Cara, tô de férias, nããão, nãão, por favoooor." Ai. 00h agora, ainda, putz. "00h30, o tempo se arrasta" (fala de GD, fala de teoria da cor, falafalafala, aê, que legal.....) cara, minha garganta tá doendo, não agüento mais berrar. "01h. Nossa, o que é isso? Minha cama tava tão boa." E meu Rubem Fonseca também. "Maldita hora em que resolvemos sair de casa, hein, Carol, tava ótimo conversar em casa." Nem me fale, nem me fale. "Acho que tô ficando velha." Eu sou velha, há muito tempo. "Velhice precoce, tá na comunidade?" Ô, hoje e sempre. Tem aquela também “sem ritmo pra amigos agitados”, já viu? "Não, mas concordo." [interrupção alheia: olha só que gatooos, a gente tirou foto com cara de drogado, hahahahah, que legal, olha, hahahahaahuahaua, vai pro Orkut, meooooo, muito massaaaaa] é, massa ¬¬. E assim foi. Uma eternidade a cada meia hora. 02h! Pronto, deu, aí agora a gente arrasta o Jan pro lado de fora, vamo? "Vamo. Um, dois, três... "

Ah. Cansei desses bares alternativos todos iguais (seria linchada agora pela população indie se eles lessem isso, como assim bares alternativos são todos iguais? =O Adivinha!). Não entendo essa diversão tão vazia, esse jeito de viver tão vazio, essa busca por coisas tão vazias, essa ocupação com hábitos tão vazios. Não me refiro só a bares alternativos, claro que não. Me refiro a essa aglomeração de pessoas sem objetivo nenhum que se unem pra se destruir em algum lugar, pra se embebedar até cair, pra agarrar todo mundo e não lembrar. Sinto uma agitação tão estranha nesses ambientes, algo se balança de um jeito esquisito dentro de mim, me sinto quase nauseada e tudo que eu quero é sair correndo, deitar na cama em silêncio até passar.

Mudando de assunto, dependendo do ponto de vista, descobri outro remédio bom pra qualquer coisa: Toquinho e Vinícius + tinta + pincéis. A cura pra minha superchatice de sexta-à-quarta da semana passada. Agora estou aqui. Nada como conforto e silêncio. O céu está perfeito (“já viu o céu hoje?” *.*) e eu estou descobrindo artistas maravilhosos. Minha irmã viajou. Minha mãe finalmente voltou a ouvir músicas. E está o maior sossego aqui. Tranqüilidade e ótimas músicas que me surpreendem a cada minuto. Mesmo assim não consigo largar do meu novo (velho) vício. Pelo menos uma vez por dia rodo o mesmo cd. Estou adquirindo vários novos-velhos vícios. Uma realização só.

Agora, as ruas estão quase inteiramente vazias. Dia ideal pra sair andando. Mas é domingo, eu sou menina , sou caçula, e Boa Vista é o bairro dos manos. Acho que vou pelo menos pra quadra do prédio com o meu Fonseca, ler debaixo do sol. Apesar de que nunca mais voltei lá. Há muitosmuitosmuitos meses não volto lá e nem sei se quero voltar. Não sei no que vai dar, não sei se vai fazer bem. Por isso me enrolo e adio. Fico aqui escrevendo, ora no Word ora no papel, selecionando músicas, copiando CDs e olhando o céu pela janela.

Isso às vezes me incomoda. Tantas coisas que deixei de fazer porque não consigo fazer de novo. Tantos lugares de deixei de visitar porque não consigo visitar de novo. E aí, como vai ser? E se mais lugares ficarem marcados com coisas boas, e se eu deixar de visitar mais lugares só pra conservar o passado? E se eu continuar trocando de perfume o tempo inteiro pra deixar as lembranças ligadas a eles sempre intactas. E se eu continuar parando de ouvir algumas músicas com freqüência só pra não marcá-las com novos acontecimentos? A trilha da minha viagem do começo do ano nunca mais parou no meu Mp3 player, pra não desmarcar aqueles dias. Jack Johnson é ouvido três vezes por ano, no máximo. “Universo ao meu Redor” nunca mais parou inteiro no meu player. A trilha da minha viagem pra Manaus já foi guardada também. Quantos perfumes estão encostados no armário? Quantos hábitos foram deixados de lado? Quantos lugares nunca mais visitei? Não sei se é bom ou ruim isso. Às vezes parece meio doentia essa minha forma de conservar o passado. Se continuar assim, talvez um dia todos os lugares fiquem marcados, todos os programas fiquem marcados, todos os perfumes, todas as músicas. E aí eu vou precisar fugir de Curitiba, ir pra longe e ser outra pessoa, só pra não me torturar com a saudade esbofeteando meu rosto a cada minuto.

Não sei, não sei mesmo. Às vezes não sei mesmo o que fazer. Não dá pra mudar assim o tempo inteiro, arrumar sempre coisas novas pra fazer só pra não ter que fazer as mesmas coisas de antes, só por medo de mudar a forma de olhar o passado. Dá a impressão de que um dia vai estar tudo saturado de memórias, e eu, com essa mania desesperada, vou querer manter tudo intacto. Aí eu me afasto pra assim mantê-los, e não sobra lugar pra mim. Dá a impressão que vou acabar num sofá imóvel, sem fazer nada só pra manter meu passado intacto. Parece que uma hora vou deixar de viver só pra manter vivo tudo que eu vivi (que bagunça essa frase). Quando eu tiver vivido quase tudo que eu quero, não vai ter mais espaço nem físico nem psicológico pra minha vida, e isso vai me espremer, me apertar, vou me ver sufocada por toda a minha história, como se não coubessem mais novas histórias por não querer mexer nas antigas. Não deveria ser assim. Talvez eu deva achar logo uma solução.

Nunca acreditei nessas coisas, mas vem passando pela cabeça muitas vezes o momento em que meu professor de Yoga, sem saber nada sobre mim, sem saber nada sobre a minha vida, resolveu puxar uma mandala pra mim sobre as decisões que eu precisaria tomar nesse ano. Ele segurou a carta e disse “Está na hora de você se desapegar do seu passado e olhar pra frente.” Há seis meses penso nesse dia e até hoje não sei direito o que eu penso a respeito. É algo que eu tenho e não gosto de ter. Eu mastigo a idéia e me calo até ter certeza do que eu penso. E quando me convenço de algo, me calo por não ter coragem de falar, ou por não saber como falar, ou por achar que não é necessário falar, pelo menos não da forma que me vêm à cabeça. Enquanto eu não entendo, parece tudo tumultuado, conflituoso. Enquanto eu não entendo, parece difícil de pensar. E aí todo mundo me encurrala, me interroga, minha cabeça roda, eu não consigo responder, e aí fujo, mundo de assunto, enrolo, ou digo “não sei, não pensei o suficiente”. Tantas vezes isso acontece. Tantas vezes nesse ano e no passado e no passado e sempre na minha vida me fazem perguntas que eu não consigo responder. Eu me vejo rodeada pelos minhas próprias contradições e não consigo balancear os lados pra descobrir o que eu penso, não rapidamente, não no intervalo pergunta-resposta.

Vim escrever aqui pra tentar resolver mais uma falha minha, só que dessa vez acabei achando mais um monte de falhas sem resolver nenhuma. Geralmente as coisas se resolvem quando eu escrevo. Entendo tudo melhor quando escrevo. Penso melhor quando escrevo. Mas, agora, acho que preciso ir pensar de alguma outra forma.

Lembrei do semestre passado. No bar, conversando com o Russo, comecei a contar da época em que eu fiz terapia. A psicóloga falou “você não precisa de mim, você entende bem demais tudo que está acontecendo com você”. E o Russo comentou, com um ar que se alternava entre compreensão, brincadeira e crítica: “Também... pensa pouco! Toda hora que a gente te olha você tá em silêncio divagando. Eu acho que vou te dar um pouco da minha tagarelice e pegar um pouco da sua mania de pensar...” Não sei se me entendo tão bem assim. Continuo achando que a mulher que era incompetente e não conseguia enxergar nada além do óbvio.

Minha mãe acaba de entrar no quarto. Ela falou: “Carol vai treinar! Eu falei pra moça do conservatório que você ia treinar ‘Aquarela do Brasil’, ela falou que acha que você vai entrar no avançado, vai treinar, vai treinar!”. =O Capaz, elas estão viajando! Muita pressão, meodeos. AMANHÃ É MEU TESTE, Ó CÉUS, TINHA ESQUECIDO! Vou treinar, tchau!

PS: Pra quem leu até aqui (se alguém ler até aqui), foi mal a acidez e a chatice do post.

Auge do final de semana:
- Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh, você tem muito bom gostoooooo, aaaaaaaaah, fofíííííssimo, muito muito muuuuito fooooooooofo, ahhhhhhhh, a-d-o-r-e-i, ahhhhh! AAAAAAAAAAAAH, ahhhhhhhhhh (...)
- É...A-alô? Alô? Cássia? Alô?...