sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

?

tem razão?
o corpo quando desobedece a vontade..
a boca quando cala, opositora...
a palpitação quando contradiz o razoável...
os sentidos quando negam qualquer sinal de bom senso...
a alma quando continua chutando pra frente o que talvez devesse desafiar a inércia...
as músicas quando se fazem nossas...
a caneta e os personagens semi-reais quando artifícios pra parecer tudo um pouco mais trivial...
pra tudo isso, tem razão?
uma palpável, real, lógica.
uma convincente e justificável.
tem?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

bolas de fumaça



fumo agora em grandes bolas de fumaça os litros e litros outrora sorvidos brutalmente pelos olhos.
viram cinzas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

banging in my belly...

i hear them talk as i walk... yes, i hear them talk. i hear they say: expect the final blast!

Fim de férias. O clássico. Isso sempre é escrito, seja em carta pro amigo que mora longe, seja na cabeça pra quem não está aqui pra ler a carta, seja pro imaginário que ainda não apareceu... Uma época sem nada que sempre chega carregada de reflexões e promessas, desdas mais fúteis até as quase-impossíveis. Uma pausa que sempre nos incita a mudar algo, qualquer coisa, nem que seja a cor do cabelo, e desde crianças estamos condicionados a isso: mudar de caderno, de estojo, blablablá e sabedeus quem pôs isso na nossa cabeça. Acho estranho, pensando assim agora, mas não era isso que pretendia dizer (na verdade, não havia algo que eu pretendesse dizer). Mas não vou fazer um balanço detalhado dos meus dias nem confidenciar meus planos. Menos por vontade e mais por distração, menos por direito e mais por tradição, darei continuidade ao nada além do ordinário resumo de férias.

Oito livros. Pelas milhares de páginas, me vi em muitos personagens, achei minhas frases roubadas (aquelas que escrevem antes de mim e quando leio só consigo pensar "ei! eu que quero dizer isso!")... Pelas histórias, fui Fermín, Bernarda, fui mesmo Clara Barceló, Bea, Miquel Moliner, Penélope Aldaya e Júlian Carax. Mais que todos eles, fui Núria Monfort e os Sempere, ora pai ora filho, como se os autores me conhecessem e baseassem todos seus personagens em mim. É bom se achar assim em certos livros. A parte gêmea nos involve, e a desigual ensina. O tocador de som, ao lado, silenciado por não haver álbum sem alguma música-fora-de-hora (aquelas que não devem ser ouvidas em épocas específicas) voltou a tocar todas as faixas, agora novas -mesmo as antigas estão novas. Livros cadernos canetas empilhados, o copo cheio cheio apoiado, a janela a tarde e a noite em congruente poesia... Depois disso, pressinto o estável.

Depois da praia e tudo que ela envolve, do novo ar, do céu. Depois de todos os livros, filmes, músicas e até mesmo os 100 episódios de Lost (é, 1ª e 2ª temporadas, uma verdadeira overdose =p). Depois de todas as toneladas de pensamentos entre um dia e outro, das incontáveis folhas escritas guardadas ou amassadas, das citações, dos personagens profetas professores... Depois de todas as criancices e rabugices, das ponderações e de todos os delírios... "nine out of ten", "you don't know me", "it's a long way" e "o quereres" depois... as coisas retomam os seus devidos lugares. Ciclo mutacional se aproxima do encerramento e o bom desafio de sempre, reaprender a mais recente carolina, se descomplica como deve. Corto aqui o fio da meada porque o que há de mais talvez nem eu parasse pra ler.

Achados (álbuns):
Caetano Veloso - Totalmente Demais (1986)
Caetano Veloso - Transa (1972)

feel the sound of music banging in my belly...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

o céééu, o sooool, o maaaaaar!

As idéias parecem fluir muito melhor no escuro. Às vezes tenho medo do escuro, mas não é o caso de hoje. Não é nada sombrio ou funesto (na verdade, só é sombrio quando me traz medo). Hoje, o escuro está poético! A luz - me refiro à luz forçada, inventada, artificial - dispersa, distrái, sobretudo quando a atenção se volta pro lado de fora da janela. Atrapalha as cores de lá (o céu), os sons (mar, vento), as luzes de lá (estrelas, lua), tudo.

A noite aqui é bela, suave. O som das ondas logo ali, o azul clarinho do céu mesmo de noite... o ar chegando tão espiritualmente puro, carregado de uma energia que cura e renova. Acaricia a pele, caminha macio pelos pulmões, balança as cortinas e sopra os acordes mais divinos, arrasta todo peso pra longe.

Não é o ar leviano e sarcástico, destrutivo, toneladas dentro do corpo, que senti já em tantas cidades, como se elas (cidades) fossem vampiros que sugam o que há de melhor dentro das pessoas pra trasnformá-las em carcaças ambulantes. É uma atmosfera completamente diferente, como se não fosse o mesmo mundo. Talvez seja a praia. Talvez o mar absorva toda a podridão do primitivismo irracional que distrói vidas todos os dias em todos os lugares. Talvez a força das ondas intimide a fraqueza humana, e aí tudo soa sublime, tudo balança com mais harmonia. Apesar de tudo que existe de errado, o ar sopra diferente, como consolo ou carinho. É leve, inexplicavelmente leve. E nada do que eu escreva poderá explicar a sensação de respirar aqui. Presente.

Certo dia me peguei numa representação insana, algo detalhável apenas pra bruno-lyz-lu, e na fuga da loucura que todos temos, uns mais outros menos, dentro de nós, me esbarrei com a realidade irrefutável ali, logo depois da limítrofe de vidro. Pela milézima vez, não com menos magia que das outras, me encantei. E como me encantei! O cd naquele momento era o ideal (e agora os cds voltaram a rodar todas as faixas sem incômodo). A melodia perfeita consonante com as cores e os sons da linda noite de Recife. E assim, balbuciando uma música de uma vez, descubro a cada dia, como a criança descobre síladas, mais algum detalhe ali pra contemplar. Uma calma imensa me invade nesses momentos.

Em concorrência com a magia da noite, só o fim da tarde. Os coqueiros em contraste com uns dos azuis-mar-e-céu mais lindos que eu já vi. Cenário perfeito. Lindo-quase-impossível! Tipo aquelas perfeições que me fazem achar que vou morrer logo em seguida porque não vai caber mais em mim algo tão extraordinário.

O fim da tarde... o sol se pondo... Definitivamente, caminhar na praia ouvindo mombojó ao pôr-do-sol foi uma das coisas mais sensacionalmente mágicas que já fiz. Novo cenário-lembrança, aqueles coqueiros, aquele céu, aquele mar, com aquelas matizes em conjunto, exatamente da forma indescritível em que estavam... agora viraram sinônimos. E, ao contrário das memórias que desejo manter sempre nos mesmos acordes e cheiros, dessa vez eu amei não impedir a música de ganhar novo significado.

andando reto sem destino, lalalalá lalalalá

domingo, 1 de fevereiro de 2009

alguns laços muitos nós

Tempos depois, as cenas repassam repetidamente pela memória e congelam como fita velha naquela imagem. A imagem vista de longe, poucos e avassaladores segundos depois do adeus contundente, só ela sabia. Observava-o impetuosamente em segredo: o andar muito leve, um sorriso descabido. Foi tão fácil? Nem respeito? Pouco antes, pensara em mais um minuto para torná-lo último com cuidado. Ele preciso ir, ela tchau virou-se, não houve o minuto. De modo que não se soltaram por imeditado, ela se permitiu lançar mais um meticuloso olhar, o último daquela forma, olhar último nos últimos segundos de posse. Côncavo/convexo, rima/verso... Num dia como aquele, numa situação como aquela... ele riso ela pranto, não mais que um minuto após a despedida. Estrangeiro, por que sorrias?