quarta-feira, 27 de agosto de 2008

um dos curta-metragens nunca filmados

No ônibus, pensando em tudo e em nada, pensando em coisas que não existem, criando pessoas que nunca conheci... Daí saiu essa mulher. Daí saiu essa cena. E o porquê de ter saído assim, como todas as cenas que crio em momentos de ócio, sempre será desconhecido.
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Acordou com um vendaval no peito, vendaval de mocidade. Aconchegou-se debaixo de água quente, estranhando a presença disso dentro de si que imaginava nunca mais poder sentir. Então saiu do banheiro, enrolou-se displicente na toalha, e por um motivo qualquer que não pôde entender, nem o quis, deixou que suas pernas a levassem ao quintal. Não lembrou da última vez em que regara as flores (como nunca as vira tão murchas?), não lembrou da última vez em que sentou ali, naquela cadeira de balanços. Pensou na sua vida dos sonhos de debutante. Pensou em tudo que a desviou daquele caminho de conto-de-fadas, como se assim fosse possível ser outra pessoa. Distraiu-se, então, e se deixou rir da marca das veias pelo seu corpo, sentindo pingar do cabelo gotas de água do banho de outrora.
Quis ficar ali, quis seus cabelos bagunçados, quis não se preocupar. Mas levantou, caminhou até o quarto e abriu a porta do armário. Tocou com um quase imperceptível sorriso o vestido de há muito, cheirando a guardado, balbuciando valsinha de Chico, fantasiando valsinha de Chico. Assim se permitiu ficar por minutos, segurando aquela porção de pano antigo tão carregada de significados, imaginando-se nele, lembrando-de nele, pensando na canção e no mundo que um dia a compreendeu. Antigo vestido, ousadia vestí-lo novamente? Ousadia! - guardou-o exitante. Vestiu-se e penteou-se como de costume, desistiu do esmalte novo, desistiu de tentar-se renovar. Assim saiu para ganhar sua vida por mais um dia e seguiu como se aquela manhã, desconstruída, nunca houvera sido.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Hoje foi o dia nacional de declamação de músicas. Começou com uma qualquer, nem lembro qual, e assim virou mania. Foram várias. Umas sérias, outras pra descontrair. Umas sérias que declamei com cara de riso pra não ficar nítido o ponto comum entre a letra e eu... No final das contas me vi explicando um trecho. Surgiu a discussão a cerca de determinadas frases e eu me vi explicando a situação que ela descrevia. Me vi explicando a situação que os fatos me descreveram. Me vi falando subjetivamente sobre o que eu estou sentindo e só depois pensei: "será que é mesmo a música ou sou eu?". Coisas que se misturam.
A lapiseira não firmou, é. Colocar papéis dentro do plástico foi complexo, foi. A mão treme e o magic color não responde, é. Giz pastel vai pro inferno dos materiais artísticos, vai (Lautrec que me perdoe, mas vai). Pedir socorro por mensagem e borrar o rímel na escada ajuda, muito. E eu não quero mais escrever por hoje.
Obrigada, Lílian.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

heal over

Minha flor de copacabana me dedicou a música do título e me abriu o sorriso no rosto. Sempre achei a melodia linda mas nunca tinha prestado atenção na letra... Ouçam! __________________________________________________
Surgiram centenas de músicas desconhecidas no meu pc e a única forma que tenho de ouví-las é através do mp3 player, o que me proporcionou agradáveis surpresas durante o dia. Entre frases e frases, chamou-me a atenção essa, em especial: "hoje é o primeiro dia do resto de sua vida". Não é nada inédita, eu sei, mas foi a primeira vez em que parei pra refletir sobre ela.

Pensar que hoje é o primeiro dia do resto de toda a vida faz com que "toda a vida" pareça muito tempo, embora isso fuja do conhecimento de qualquer um. Hoje é apenas o primeiro dia, o começo de tudo. Ainda há tempo de lutar, ainda há tempo de conquistar tudo aquilo que se almeja. É só o primeiro dos dias. Tudo pode ser. Ainda há tempo pra ouvir, pra tentar de novo, pra planejar de novo, pra resgatar o que há de mais importante. Ainda há tempo. Ainda há tempo pra correr atrás do tempo. Mesmo que o "resto da vida" seja só mais um mês. Por trás dessas palavras está a coragem, e a coragem permite que os dias últimos existam somente com o fim de recuperar o que se perdeu, com o fim de reencontrar a própria vida, com o fim de reencontrar a si mesmo pra tentar trazer de novo pra perto quem não se quer perder.

Hoje esgotei a minha cota. Esgotei meus minutos de altismo compenetrado, de horas sentada numa mesma posição, de óculos escuros para que não me vissem. E aí, surgindo alguém conhecido, eu dissimulava um sorriso porque os olhos estavam tampados mesmo, então eu me sentia disfarçada em meu próprio abismo. Olhando agora pros últimos 12 anos da minha vida, eu sempre tive um pouco disso, sempre tampei os olhos e sorri, sempre fui um pouco atriz (e quem não é?). Hoje esgotei a minha cota de gargalhadas superficiais. Esgotei. E a partir de agora vou ter coragem de falar "preciso de um abraço" porque foi disso que eu mais precisei hoje.

Me brotou, de repente, uma saudade imensa das pequenas coisas que vinham me alegrando os dias (não tão de repente, vem sendo "de repente" o tempo todo). Os cheiros, os sabores, os sorrisos. Deixei-as um pouco de lado involuntariamente e agora machuca não vê-las mais tão de perto. Sinto saudades de coisas tão recentes, outras tão antigas. Sinto saudades e culpa. Sinto o veneno de ter deixado voltar, ainda que por pouco tempo, quem eu já fui e deixei de ser. A toxicidade de pintar meus dias com a tinta dos defeitos que lutei tanto pra apagar. É ruim acordar e não se reconhecer. Acordei rápido, mas o tempo durou o suficiente pra deixar marca. E eu não gosto dessa marca.

Então fica difícil não estremecer ao ver os resultados de minha fraqueza. E fica difícil recuperar a força com esses resultados me esbofeteando a face diariamente. Fica difícil ver a ausência e não me sentir culpada. Fica difícil me convencer de que o que vejo não passa de uma impressão equivocada. Fica difícil. E como distinguir a verdade da paranóia? Como distinguir a culpa do medo? Como não sentir medo?

Enfim, esse é o primeiro dia do resto da minha vida, espero acordar amanhã pensando assim.

"It's gonna take time, you'll just have to wait. But, in the meantime, come over here, come a little nearer..."

*bloqueio criativo-literário mode on

copo vazio.

Cantei mentalmente a mesma música durante toda a madrugada de sexta. O poder que o Chico tem de cantar e alfinetar ao mesmo tempo... o poder que ele tem de, com uma voz super suave, dar uma grande de uma bordoada em qualquer um... o poder que ele tem de falar as verdades mais ácidas que ninguém quer ouvir... esse poder poucos têm.

um copo vazio.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

escritos de um dia-de-férias qualquer...

escritos de um dia-de-férias qualquer...

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Nesse período de silêncio virtual, páginas e páginas foram escritas (descobri um dias desses que foram páginas de um caderno inteiro O.o), folhas e folhas foram amassadas. Não que contivessem pensamentos descartáveis, dispensáveis ou inválidos (apesar de ter escrito muita coisa que julguei não prestar pra nada). Mas há coisas que não devem ser escritas. Há coisas que por serem grandes exigem comportamentos extremos: ou se fala ou se guarda.

Escrevi muitas folhas só pra mim, muitas só pra pessoas específicas, muitas pra ninguém (as mais confusas que não consegui endereçar nem pra mim). Algumas enviei pelo correio. Outras dobrei pra entregar depois, desisti e amassei. Outras amassei sem nem terminar de escrever. Outras ainda estão dobradas. Mas não escrevi nenhuma que coubesse coerentemente aqui. Há textos que não são pra todo mundo ler, e um blog é pra todo mundo. Nunca senti tanta dificuldade em escrever aqui.

Talvez eu devesse experimentar, vez ou outra, a sensação de não medir palavras. Sou capaz de passar uma hora inteira segurando a caneta, olhando o papel, sem saber como escrever o que eu penso. Não me concentro no que devo pensar, não me concentro no que devo resolver, não me concentro no que devo descobrir, não me concentro no que devo entender. Não sei se por comodismo ou por medo, mas pulo de um pensamento pra outro sem dedicar tempo suficiente a nenhum deles, sem concluí-los, numa evasão constante.

Nesse período comecei a entender que nem tudo se cura com música. Que não adianta mais ligar o som bem alto e esperar que tudo se resolva apenas assim. Depois de muito escrever sem chegar a conclusão nenhuma, começo a desconfiar de que passei muito tempo achando estar melhor enquanto apenas fingia que minhas limitações não existiam. Depois de muitos anos, muuuuuitos anos (até me senti velha agora, mas são quase 10 anos) senti saudade dos domingos em família. Nunca mais tinha sequer pensado neles. Nesse período descobri que eu nunca me acostumo a “precisar de pessoas”. Eu sempre me assusto quando me vejo precisando demais de alguém.

Nesse período, mais que tudo, cansei de ter tantas coisas por terminar. Dezenas de livros que li pela metade, dezenas de textos que escrevi só uma parte, dezenas de pensamentos que nunca concluo... Não concluo pensamentos porque me vejo precisando de palavras a certa altura. Só entendo quando acho as palavras. Se demoro pra achá-las me sinto desconfortável em minha pele e acabo deixando tudo de lado pra não ter mais que procurar. Parar de pensar sozinha pra começar a pensar em grupo fica difícil depois de tanto tempo engolindo as próprias explosões. Pensando sozinha dispensa-se palavras. Mais se sente do que se pensa. É bem verdade que também mais se foge do que se resolve. Mas pensar em conjunto faz com que as palavras se tornem necessárias. A questão é: que palavras? Como eu as descubro? Como eu as encontro? Às vezes me percebo invadida por uma vontade imeeensa de falar, mas não sei como, e desisto, ou levo mil minutos pra conseguir começar.

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Vê-se que esse foi mais um dos textos não concluídos. Lembro que deixei pra terminar depois, mas não sei mais o que eu queria dizer. E agora não sinto vontade de dizer nada sobre isso.
As aulas voltaram
Os professores nos desesperam
3° período arma revolução
O curso voltou àquele momento de união repentina para recepcionar calouros
Apesar das poucas expectativas em relação às matérias, estou feliz.
Estou feliz, mas estou doente... impossibilitada de levantar do meu leito.
Acho que não sou louca o suficiente pra reprovar no psicotécnico.
Depois de quase um mês sem postar, só isso que eu tenho a dizer?
É... aqui sim. A cada dia que passa sinto que tenho muito a dizer, mas não quero dizer aqui.

Só preciso dizer algo pra mostrar pros meus netos, se até lá ainda existir internet e blogs: Fui ao Show do Zeca Baleiro, as cadeiras eram numeradas, entrei pelos fundos, sentei na frente e no meio, os donos das cadeiras não apareceram e ninguém percebeu que eu não podia estar ali... eu assisti a tudo de graça.

Recado para os netos: Queridos pimpolhos, essa foi a primeira vez que sua vó burlou o sistema de segurança de algum evento, aos 18 anos de idade. O Zeca Baleiro era novinho também, acreditam? Existe uma foto minha do dia desse show, mas ainda não chegou às minhas mãos. Vou conseguí-la pra pôr aqui e mostrar pra vocês. Enquanto isso, vai uma do Baleiro. Grande abraço, saudades.