escrever
ainda que esteja a mente inóspita
a não ser pela letra da música que toca.
talvez porque seja preciso falar
ou calar.
talvez pela dispensabilidade do sono
pelo receio de apagar a luz
ou de ter pesadelos.
talvez pelos livros a serem lidos
todos na cabeceira da cama.
o livro diante dos olhos esperando ser aberto.
diante dos olhos, esperando ser explorado
diante dos olhos, esperando ser visto
diante dos olhos.
esperando.
esperando ser visto não apenas como livro.
talvez não só pelos livros,
mas pelas reações comedidas
pelos atos pensados em demasia
pelo desejo calado
pelas cartas que não são postas em jogo
pelos assuntos não proferidos
pela segurança ameaçada.
talvez pelo sonho, pela fantasia
pela lembrança, pelo fato
pelo incômodo, pelo silêncio.
talvez pela cara à tapa, pela fuga
pelo adiado, pelo odiado.
pela corvardia, pelo anseio de coragem
pelas indagações silenciadas.
talvez pela dúvida sem resposta
pela resposta que não vem
pelo machucado, pela necessidade de indagar.
pelo inominável, pela definição
nomenclaturacertezaplanoscomparaçãointensidadeverdadevontade
pelo medo da inatingibilidade
capacidade posta em questão
pela cegueira
por querer ensinar a enxergar.
talvez não tenha motivo e seja simplesmente apego,
apego ao lápis e ao papel,
ao que tem cheiro de não-vivido
ao tempo que não passou
à época deconhecida.
apego, ou apelo?
talvez pela dor,
pelo escape.
talvez nem por isso.
nem por nada.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
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