quinta-feira, 20 de novembro de 2008

de dias atrás...

Dias-números. Dezenove. Era fácil contar, mesmo que agora os dedos das mãos fossem necessários. Era fácil para ela, no meio do caos, no meio de tudo, de repente pensar "eu falaria...". Entre uma e outra esquina, entre um e outro suspiro, ela canta cherish [8839], canta cherish... cherish! - apesar de todo o barulho - canta e cantava... lembrou de quando cantava vendo o sorriso [2494, esse o número?]. Ela ria com graça, chegava mais perto lentamente e sussurrava em tom de brincadeira: "Romeo and Juliet, they never felt this way, I bet"- a declaração mais séria de sua vida... can't let go, baby, can't you see? E o número de que lembrou depois de tanto tempo bem que podia atender, seria bom.

Passos largos exigem precisão. Como alcançaria precisão sem frieza e desapego? Como poderia soltar tudo e deixar ir embora, como poderia jogar tudo pro alto? Como poderia desistir, decidir? Como poderia saber quão suas são suas próprias conquistas? Separar as coisas nunca foi questão de querer, tentar ou aprender. Algumas coisas não se separam. Algumas coisas estão sempre presentes e se conectam a tudo, inevitavelmente. Enquanto tremiam as mãos, era também inevitável pensar que seria mais fácil, não faltasse uma grande parte do seu coração. “Perguntar ‘por quê?’ cansa!” – pensou enquanto escrevia em linhas tortas sua história no papel (linhas tortas, linhas que denunciam). Depois, pousou a caneta e escolheu o silêncio ali, só naquele momento, embora o pedido de explicação ecoasse reprimido desde sempre, embora estivesse farta do silêncio. Assim ficou até adormecer.

Antes de mergulhar na inconsciência, recordou vagamente que um dia lhe fora dito: “Se pudéssemos viver na época mais feliz de nossas vidas, nunca teríamos nos conhecido, não é?”. Então, num assentimento sonolento e profundo, concluiu, por fim: “Talvez por isso não seja possível parar o tempo”.